INTRODUÇÃO
Todas as noites ao redor do mundo, bilhões e bilhões de pessoas dormem e acabam sonhando. Algumas terão bons sonhos, outras terão pesadelos e outras ainda terão os sonhos que desejarem. Isso mesmo, os sonhos que desejarem. Muitas vezes, quando sonhamos fazemos a pergunta se tudo aquilo é real ou se estamos apenas em um sonho. Existe até o velho pedido de ser beliscado para ver se acordamos ou não. Se a pessoa que está sonhando perceber que aquela experiência não é real, devido a cenas estranhas, fatos bizarros, pessoas que não conhece, poderemos chamar esse tipo de sonho então de sonho lúcido ou sonho vivido.

Algumas acordarão, mas outras poderão desejar continuar no sonho, tendo consciência claro de que estão sonhando e até influenciar conscientemente todas as cenas e acontecimentos. Trata-se de sonhar, porém mantendo a consciência de que tudo que se passa é apenas um sonho. Seria como se acessássemos o estado mental dos sonhos, podendo refletir sobre os acontecimentos e sabendo claramente que toda a experiência vivenciada é simplesmente um sonho próprio.

Hervey de Saint-Denis
(1822-1892)

Explicando com uma analogia ao cinema, no sonho comum, seria como se fossemos convidados a participar de um filme. Nessa participação, receberíamos nosso personagem, o roteiro e não saberíamos quem participaria de todo o filme.
Nesse exemplo então, seríamos apenas os protagonistas e toda a ação do filme seria dirigida por alguém, o inconsciente. Nos sonhos lúcidos, nós seríamos o diretor e assim claro, os acontecimentos do filme, no caso o sonho, seríamos nós quem definiria o roteiro, inclusive quanto ao momento de finalizar.

Desta forma, podemos definir sonho lúcido como a percepção consciente que temos de nosso estado e condição enquanto sonhamos, resultando em uma experiência de lembrança clara e lúcida, de controle e capacidade de nossas ações e em algumas vezes de até o desenrolar do conteúdo do sonho.

O termo “sonho lúcido” foi utilizado a primeira vez pelo psiquiatra holandês Frederik Willem van Eeden em 1913. Outros autores definem os sonhos controlados como sendo sonhos vividos ou sonhos dirigíveis.

Independentemente se chamamos de sonho lúcido, sonho vivido ou sonho dirigível, o importante é que esse processo de “administração” dos acontecimentos oníricos, influencia o andamento “natural” do sonho e para o interesse da psicanálise, como o fato pode ser interpretado, visto que o sonhador controlou o conteúdo onírico.
Existem várias referências de sonhos lúcidos em todas as épocas, culturas, sociedades, comunidades e lugares, o que confirma seu caráter universal. Aristóteles, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, fizeram considerações sobre os sonhos lúcidos.

Porém, somente com o marquês Hervey de Saint-Denis os sonhos lúcidos tiveram considerações mais sistemáticas. Saint-Denis em 1867 escreveu seu livro “Sonhos e como Guiá-los”, resultado de seus estudos de mais de 20 anos sobre o assunto.
Essa obra foi de grande importância para os sonhos que até Sigmund Freud chegou a elogiar o trabalho de Saint-Denis e sua pesquisa sobre o assunto.

Apesar de Freud ter elogiado o trabalho de Saint-Denis, o entendimento dos sonhos lúcidos continuou sendo visto com reservas.

Frederik Willem
(1860-1932)
Frederik Willem Van Eeden
Stephen LaBerge
(1947)

Foi então que em 1913, o psiquiatra Van Eeden, apresentou um trabalho sobre esse tema para a Sociedade de Pesquisa Psíquica Britânica e com a ajuda de Frederic Myers, professor de Cambridge e um dos fundadores da sociedade, considerou que o tema deveria ser estudado com mais afinco.

Van Eeden cita: “(Nos sonhos lúcidos) a reintegração de funções psíquicas mostra-se tão completa que o adormecido (...) alcança um estado de perfeita consciência, tornando-se capaz de direcionar sua atenção e de tentar diferentes atos de livre volição. Mesmo assim, o sono (...) continua imperturbável, profundo e refrescante.”

Em um estudo de 2000, o psicofisiologista Stephen LaBerge, um dos maiores especialistas sobre sonhos lúcidos no mundo, quis comprovar a existência dos sonhos lúcidos, pedindo a alguns indivíduos que mexessem seus olhos em um padrão pré-determinado durante seus sonhos lúcidos e assim, comprovou e registrou esses movimentos durante o experimento.
Desta forma pode comprovar que as pessoas ficaram conscientes durante o sonho e repetiram a instrução do pesquisador.

FASE REM E A HABILIDADE DE INDUZIR SONHOS LÚCIDOS
Nosso sono basicamente é dividido de 4 a 6 ciclos que se repetem, contando as mesmas fases. Em cada um desses ciclos, ocorre a fase chamada Fase REM (Rapid Eye Movement – Movimento Rápido dos Olhos) e é exatamente nessa fase que os sonhos são mais intensos.

Os registros em laboratórios do sono, as literaturas das pesquisas efetuadas, divulgadas até agora, apontam para a presença de ocorrência dos sonhos lúcidos nos últimos ciclos do sono. São as fases REM tardias, em que o período de sonhos mais intensos é maior.

Significa que numa noite de sono, é preciso dormir mais do que 6h, para começar a atingir as melhores fases do sono e ter chances de ficar consciente enquanto sonha.
Existem alguns métodos de indução de sonhos lúcidos que se aproveitam do conhecimento do estudo da fase REM para “ensinar” a habilidade de controlar os sonhos.

Orientam para o despertar após a 6h de sono e a continuação do sono, com o objetivo de ao voltar a dormir, estar mentalmente mais apto para acessar o sonho de modo consciente.

Contudo, sonhos lúdicos podem ser produzidos e mantidos quando queremos.
Costumam ser raros e frequentemente suscetíveis a interferências.
Algumas pesquisas mostram que mesmo pessoas treinadas a terem sonhos lúcidos, conseguem ter no máximo uma a duas vezes por semana essa experiência.

Fases do Sono
As pesquisas sobre sonhos lúcidos seguem mais intensas em centros como a Universidade de Heidberg, o Centro do Instituto de Saúde Mental de Mannhein, ambos da Alemanha no Brasil, com Sidarta Ribeiro e Sergio A. Mota Rolim, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Ursula Voos, Alan Hobson, Romain Holzmann, também de universidades e centros de estudos da Alemanha. LaBerge e novos pesquisadores pela Universidade de Sandford e outros centros.

LaBerge utilizou o termo “onironauta” para representar aquele que consegue controlar elementos oníricos dentro dos sonhos.

PSICANÁLISE E SONHOS LÚCIDOS
Freud em 1908, na segunda edição de seu livro “A Interpretação dos Sonhos” escrito em 1900, observa em prefácio a edição o seguinte comentário:

“Existem algumas pessoas que permanecem quase conscientes durante a noite, quando estão dormindo e sonhando e que, portanto, parecem ter a faculdade de direcionar seus sonhos conscientemente. Se, por exemplo, um sonhador desse tipo estiver insatisfeito com o rumo tomado por um sonho, pode interrompê-lo sem acordar e recomeçá-lo em outra direção – como um dramaturgo popular sob pressão pode dar a sua peça um final mais feliz”. (Freud, 1908, p. 693).

Para Freud, os sonhadores capazes dos sonhos lúcidos, teriam um desejo pré-consciente de observação e diversão com seus sonhos. Inclusive, o comentário realizado por Freud sobre os sonhos lúcidos, comentário esse sem muita ênfase, levou Ferenczi a se interessar pelo assunto tendo escrito um pequeno artigo em 1912.

Os sonhos lúcidos oferecem a possibilidade de investigarmos com mais aprofundamento os estados intermediários da consciência.

O cérebro adormecido reflete sobre a própria vigília durante o sonho lúdico. Portanto, nos movemos em duas esferas ao mesmo tempo – estamos dormindo e acordados.

Gurfinkel (2008), nos apresenta um significado interessante sobre os sonhos lúcidos e deixa uma questão aos psicanalistas:

Como podemos entender este “divertir-se com os próprios sonhos”? Seria a “terra dos sonhos” uma espécie de parque de diversões, como os que figuram nas diversas “viagens” que seduzem as crianças – a viagem à “terra do nunca” de Peter Pan, ao “país das maravilhas” de Alice, à “ilha dos prazeres” de Pinóquio ou a viagem ao céu” de Monteiro Lobato? O próprio psicanalista não seria, aliás – devido seu ofício, mas sobretudo movido por anseios infantis –, um voyeur de sonhos? Até onde seu interesse por sonhos não pode vir a se tornar uma atividade pervertida, um fim em si mesmo? (Gurfinkel, 2008, p. 280)

Voltando ao artigo de Ferenczi de 1912, ele descreveu um caso de um paciente que relatava que quando estava sonhando, se percebia algo que não estava gostando, mudava o rumo do sonho para que as coisas ocorrem de uma forma melhor. Freud inseri em sua teoria os sonhos dirigíveis como tema da discussão da contribuição do pré-consciente na formação dos sonhos, utilizando-se o desejo de dormir. Tendo o desejo inconsciente como fonte principal dos sonhos, não poderíamos deixar de considerar que o desejo de dormir tem sua função no processo.

Se considerarmos ainda que todo sonho é um sonho de comodidade, poderíamos nos questionar se haveria então um desejo no controle dos sonhos, de prolongação dessa comodidade. Qual seria então o limite a ser considerado de avaliarmos a necessidade de dormir com o desejo de dormir?

De qualquer forma, Freud esclarece que o desejo de prolongação do sonho dá lugar em determinados casos, a um outro desejo pré-consciente que é o de controlar os próprios sonhos e divertir-se com eles.

Ferenczi adiciona a discussão um fator bem curioso, o uso do dormir e do sonhar como fuga da realidade. Assim, se o sonhador altera seus sonhos para que as coisas aconteçam conforme seu desejo e logicamente, ele não acorde de seu sonho, talvez pudéssemos afirmar que essa pessoa estaria fugindo da realidade. Também se considerarmos, como já foi dito, que esses sonhos ocorrem pela manhã ou após a 6ª hora de sono, o desejo de prolongamento do sonho realmente possa ocorrer.

Importante ainda ressaltar que nos sonhos dirigíveis, os mecanismos de deslocamento, condensação e figurabilidade ainda continuam a exercer seu papel. Ainda segundo Ferenczi, no sonho dirigível, encontramos “fantasias oníricas nem elaboradas”, estando assim esse tipo de sonho mais próximo da elaboração secundária do sonho. Os sonhos dirigíveis por serem então mais secundarizados, estariam mais próximos da consciência e da vontade do eu. Possuem portanto um caráter defensivo, pois controlar o próprio sonho pode ser uma forma de tentar defender-se do sonhar.

O sonho dirigível pode indicar um desejo de separação entre o sonhar e a vida de vigília, ou, segundo Winnicott, uma atividade dissociada que deixa de ser um verdadeiro sonhar, afastando-se tanto do sonhar quanto do viver.

Tendo então o ego onírico como sendo a nossa própria representação dentro do sonho, na maior parte das vezes não possui a consciência de que estamos em uma realidade paralela e assim interage com essa realidade até que acordamos e podemos perceber que estávamos sonhando. Porém, esse ego onírico algumas vezes pode ter a consciência de que está sonhando e desta forma, controlar esta realidade inconsciente.

Muniz (2005) descreve algumas características de uma experiência de sonho lúcido:
- apresenta um ego consciente de estar sonhando
- permite satisfação de desejos reprimidos
- permite a modificação de atitudes do ego em face dos conteúdos oníricos por meio da experimentação de atitudes novas
- possibilita a exploração das distantes terras interiores proporcionando autoconhecimento
- proporciona novas emoções
- ocorre na fase REM.

A CLÍNICA PSICANALÍTICA DOS SONHOS LÚCIDOS
As pessoas denominadas “sonhadores lúcidos” geralmente relatam seus sonhos como sendo maravilhosos, cheios de cores, vida e histórias fantásticas. Ainda alguns afirmam que os sonhos lúdicos ou dirigíveis, são como uma “hiper-realidade” onde a realidade nesse tipo de sonho, é mais real que a realidade em estado de vigília, tendo alguns elementos mais amplificados. Esse tipo de sonho é muito mais recordado que os outros tipos de sonhos, até mais que os pesadelos.

Se os sonhos comuns são como um mergulho no inconsciente e quando ficamos conscientes nos sonhos, teríamos a oportunidade de irmos ao encontro direto com esse material e rejeitá-lo muitas vezes, caberá ao psicanalista saber explorar as raízes desses medos e inseguranças, afinal, fica muito mais claro ao paciente, já que a recordação de sonhos lúcidos ser mais constantes, de expor os motivos que o fizeram “alterar” o rumo do sonho para o não enfrentamento desse material inconsciente. Nos sonhos comuns não percebemos que estamos sonhando e sempre acreditamos estar acordados e assim, fugimos dos perigos, enfrentamos os problemas com os quais surgem, tememos pessoas e animais e suas reações, etc. Já nos sonhos lúcidos, isso não existe. O sonhador sabe que está sonhando e age de acordo com este entendimento.

Como sabemos, a interpretação dos sonhos é subjetiva, onde o que é interessante nos sonhos é o seu caráter narrativo, sua linguagem, sua interpretação. Assim sendo, dificilmente o sonho significa exatamente o que mostra, ele precisa ser interpretado pelo psicanalista juntamente com o paciente. Sua interpretação precisa fazer sentido ao paciente.

Devemos ainda considerar que a própria lucidez faz parte do sonho e que mesmo que a consciência nos sonhos lúcidos esteja num estado de vigilância, ela ainda permanece sob domínio do sonho, afinal, o sonhador está sempre necessitando “alterar” as situações criadas pelo sonho. Essa lucidez de vigilância, mesmo que transportada para o sonho, nada mais é que a consciência dual de separação sujeito/objeto, eu/mundo. Nesse tipo de sonho, o ego onírico funciona de maneira similar ao ego na vigília. A realidade interior não é confundida com a realidade exterior pois o ego onírico compreende o que está ocorrendo.

Nos sonhos comuns relatados pelos pacientes, ouvimos relatos que ultrapassam o limite do possível, como animais falantes, cadáveres que caminham e falam, etc. Nesses sonhos, o paciente fica indiferente ao fato de que esses acontecimentos são impossíveis para o mundo da vigília e vive a situação sem um questionamento da incoerência. Já nos sonhos lúcidos, o paciente interage com a cena onírica, modificando conforme seu interesse. Qual foi o medo, angustia, desejo surgidos nessa interação? Qual o motivo que levou o paciente a modificar o conteúdo onírico e para que mudou? Respondendo a essas e outras questões, o psicanalista continuará tendo conteúdos para a análise onírica.

Infelizmente não encontramos literatura de estudos de caso sobre os sonhos lúcidos na clínica psicanalítica. Assim, não podemos afirmar por exemplo se a interação dos símbolos do inconsciente com o consciente afeta de alguma maneira a interpretação ou se esses símbolos teriam o mesmo significado que num sonho comum.

SONHOS LÚCIDOS E NEUROSE OBSESSIVA
Considerando os principais mecanismos de defesa, o deslocamento, a formação reativa, o isolamento e a anulação, presentes na neurose obsessiva, talvez pudéssemos desenvolver uma discussão se os sonhos lúcidos não poderiam ocorrer principalmente em sonhadores obsessivos.

Freud desde o início da psicanálise atribui grande relevância da defesa sobre o impulso inconsciente, produzindo vários sintomas secundários, como as ideias obsessivas. Em seu artigo “As Neuropsicoses de Defesa” de 1894, Freud coloca que muitos obsessivos não conhecem a origem de suas obsessões, sendo que a obsessão seria um substituto da ideia sexual inaceitável, tomando assim seu lugar na consciência, ou seja, o paciente substituiria essa ideia sexual não aceita pela obsessão. Continuando, o afeto existente nas obsessões se caracteriza como deslocado e desta forma, a defesa teria o intuito de separar a ideia incompatível do afeto. Consequência disso, a ideia então permaneceria na consciência, mas isolada do afeto.

Freud ainda ressalta em seus trabalhos que a neurose obsessiva apresenta um caráter ativo e não passivo como na histeria. Ainda se falarmos de recalcamento, na neurose obsessiva, como consequência da falha desse recalcamento, ocorre a formação de inúmeros sintomas obsessivos, como os rituais ou atos obsessivos. O ritual obsessivo surgiria como um ato de defesa, uma medida protetora.

Seria portanto então os sonhos lúcidos um ato de defesa e um sintoma obsessivo? Se considerarmos que a neurose obsessiva nada mais é do que uma formação psíquica reativa ou uma defesa contra o impulso preso no inconsciente, talvez pudéssemos afirmar que sim.

Sabemos que nos sintomas obsessivos ocorre uma luta incansável contra o reprimido. Nesse tipo de neurose portanto, o conflito entre as instâncias psíquicas tem uma participação especial na formação dos sintomas obsessivos e talvez, nos sonhos lúcidos. Nos sonhos lúcidos, o sonhador “não aceita” o surgimento de conteúdos reprimidos e passa para um ato de defesa, manipulando esse conteúdo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conhecimento de como a lucidez se instala no sonho ainda é uma incógnita. Apesar das pesquisas de LaBerge, muita coisa ainda precisa ser descoberta. A ligação dos sonhos lúcidos com alguma estrutura de neurose também necessita estudos.

Enquanto LaBerge busca o conhecimento de técnicas de como induzir os sonhos lúcidos par compreensão da amplitude dos estados de consciência, não temos ainda, infelizmente, estudos sobre a ligação desse “tipo” de sonho com a psicanálise.

Sabemos ser fato que o conteúdo dos sonhos lúcidos trazidos para análise, podem ser claramente interpretados pelos psicanalistas, pois o psicanalista poderá trabalhar com os motivos que levaram o paciente a modificar seu sonho, quais os conteúdos que ele não quis enfrentar e quais ele preferiu vivenciar.

Uma coisa devemos considerar importante para uma interpretação desses sonhos, as lembranças são mais completas do que as lembranças de sonhos não lúcidos. Curioso lembrarmos pois Freud destaca em seus trabalhos que antes de começar os estudos sobre a interpretação dos sonhos é preciso considerar as dificuldades envolvidas neste trabalho. Primeiramente nós não temos nenhuma garantia de conhecer os sonhos tal como realmente ocorreram, isso porque a nossa memória perde as partes mais importantes do sonho e a parte lembrada sempre passa pela nossa ação interpretativa. A nossa lembrança dos sonhos não-lúcidos é fragmentada, inexata e falseada. Mas como seriam nos sonhos lúdicos? Os mecanismos de funcionamento de condensação e deslocamento seriam suplementados pela simbolização? Os símbolos oníricos dos sonhos lúcidos encobrem ideais sexuais? E ainda, os sonhos lúcidos são também uma realização de um desejo? O que ocorre diferentemente nas lembranças dos sonhos lúcidos? Por que lembra-se mais facilmente desse tipo de sonho? São todas perguntas intrigantes.

Se ainda considerarmos a hipótese de que talvez os sonhos lúdicos possam ocorrer mais em obsessivos, qual seria o motivo desse fator? Se enxergarmos no sintoma obsessivo, a particularidade dos mecanismos de defesa sempre mostrando que as formações reativas estão a serviço das hostilidades inconscientes, será que nos sonhos isso também pode ocorrer ao ponto de surgir a possibilidade de controle do conteúdo onírico? Ou não, os sonhos lúdicos também podem ocorrer na estrutura histérica? Enfim, são indagações que ficam para futuro trabalhos de pesquisas que possam a vir.

Uma coisa devemos considerar que um número cada vez maior de neurocientistas está chegando à mesma consideração de Eric R. Kandel, da Universidade Columbia, o Prêmio Novel de 2000 em fisiologia e medicina: a psicanálise “ainda é a visão da mente mais intelectualmente satisfatória e coerente”.

Se então juntássemos as pesquisas de LaBerge com o conhecimento psicanalítico sobre os sonhos e estudos de casos, talvez nossas indagações pudessem ser esclarecidas.

Por: Alexandre Alves
REFERÊNCIAS
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LAPLANCHE, J. & Pontalis, J.B. Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1970.
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ROUDINESCO, Elisabeth MICHEL Plon. Dicionário de psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro, Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
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ZIMERMAN, David E. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, Técnica e Clínica - Uma Abordagem Didática. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Por: Alexandre Alves
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